segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Um pouco mais a respeito do acordo ortográfico

O leitor vidaseverina fez um comentário muito inteligente a respeito do artigo do Marcos Bagno. Concordo que esse autor toma, às vezes, um tom panfletário. No entanto, é preciso entender esse modo de falar dentro do contexto em que se desenrolam algumas discussões sobre língua no Brasil. Creio que a forte carga de preconceito linguístico em nosso país leva os veículos de comunicação de massa (televisão, revistas) a sempre abordar o tema "língua portuguesa" a partir da concepção antiga, retrógrada e não-científica da gramática tradicional.
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Nas reportagens que a revista Veja faz sobre língua portuguesa, p. ex., o tom é sempre de "a ruína da língua", como se arrancar os cabelos ajudasse em alguma coisa (a respeito da Veja, confiram http://www.marcosbagno.com.br/conteudo/arquivos/art_carta_urgente.htm). O professor Pasquale, que não tem nenhuma simpatia pelos linguistas, ganhou um quadro no Fantástico durante certo tempo. Mas quase nunca se ouve falar dos linguistas, os verdadeiros especialistas do assunto (sinceramente, acho que um quadro sobre diversidade linguística ou análise do discurso faria o maior sucesso na televisão).
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Com relação ao acordo, confesso que tinha muitíssimas reticências - e ainda tenho: afinal, já que é pra mexer na língua, por que não resolveram de vez a questão do hífen? Continuou complicado, talvez só um pouco menos. Além disso, a dita "uniformização" da ortografia (uniformização pela metade, porque há diversas grafias duplas, mas deixa baixo) não elimina as principais diferenças entre o português brasileiro e lusitano: léxico (vocabulário) e sintaxe (uso de pronomes, ordem das palavras, tempos verbais...) - diferenças que, é bem verdade, são bem menores na escrita culta formal.
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E o fato é que, com algumas exceções, não havia nenhum problema de entendimento. Não é meia dúzia de acentos que vão me atrapalhar de ler Saramago (que fazia questão que seus livros fossem publicados no Brasil com a grafia e o vocabulário lusitanos - estava certo, e penso que é um crime "aportuguesar" ou "abrasileirar" uma obra literária).
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Mas a verdade é que eu, ingenuamente, não tinha atentado para o lado político da questão, tal como abordado no artigo. Com relação a isso, apenas pensava que a desimportância política de nossa língua correspondia a nossa própria desimportânica político-cultural. Mas o texto de Bagno me esclareceu outros aspectos.
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Agora, com relação aos pontos levantados por vidaseverina, como ele próprio diz, "sempre tem um mas"...

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