terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

A síndrome do B2

O aluno que faz o segundo semestre do curso de francês no Centro de línguas é uma não-pessoa. A frase – propositalmente ridícula – serve para mostrar a situação do nosso aluno de B2. Falo especificamente do curso de francês, porque não sei se existe, no curso de espanhol, italiano, inglês ou alemão, o que costumo chamar de “a síndrome do B2”.
.
Esse terrível mal aflige mais algumas turmas do que outras, mas acho que está presente em todas. A história é a seguinte: o aluno de B1 (em geral bastante entusiasmado) pensa mais ou menos assim: “UAU, já sei dizer minha profissão, já posso pedir para ir ao banheiro e já consigo contar até 10!” Suspeito até que alguns chegam em casa saltitando “MANHÊ, hoje eu aprendi o nome das frutas em francês, quer ouvir?”
.
Brincadeiras à parte, essa energia das turmas iniciantes facilita o aprendizado e a concentração, e o trabalho costuma ser muito divertido. Como as atividades são muito mais dirigidas, o aluno normalmente está seguro do que tem a dizer e manda ver. No semestre seguinte, porém, as coisas mudam: primeiro, o aluno não é mais iniciante, e o professor já não fa-la da-que-le jei-to ex-pli-ca-di-nho que é ne-ces-sá-rio no B1. E nem deveria: se você continua ouvindo uma fala muito artificial, vai ter cada vez mais dificuldade para se acostumar à língua de verdade.
.
Mas quando eu brinco, dizendo que o aluno de B2 é uma “não-pessoa”, quero mostrar como ele é difícil de classificar: não é mais grand débutant, mas está longe de ser intermédiaire e, pra piorar, acabou de chegar de férias – alguns só chegam depois do Carnaval. Além disso, a empolgação do B1 (“eu sei isso, isso e aquilo”) dá lugar ao nervosismo do “eu não sei isso, nem aquilo, nem aquilo outro... EU NÃO SEI NA-DA!!” Na verdade, ele sabe muita coisa, e se tentasse se virar com o que sabe, conseguia dizer muito mais do que imagina. Numa próxima ocasião, vou falar de minhas experiências com o tcheco, e você vai entender direitinho.
.
Como miséria pouca é bobagem, no B2 o coitado do aluno ainda aprende um monte de vocabulário, vários novos pronomes e uma série de tempos verbais que não são particularmente difíceis, mas exigem bastante atenção e prática (futur proche, passé composé, imparfait, futur simple). Não é à toa que quase sempre rola uma saudade do professor do B1...
.
Caso você, meu caro leitor, seja um aluno de B2, estou te dizendo isso para você saber que não é uma pobre vítima de um mal desconhecido. Na verdade, seu problema já é bem conhecido e catalogado como “síndrome do B2”. Ainda não foi descoberta uma vacina, mas quer saber o remédio? Relaxe, estude e não tenha medo do erro. Afinal, quem tá na chuva é pra se molhar!

3 comentários:

  1. "minhas experiências com o tcheco"! hahaha hahaha conta essa.......

    eu vivi bem essa crise do b2. bom saber que é geral. eu sempre digo que foi no b2 que eu pensei: putz, não tou sabendo nada... ou eu estudo direito, ou largo essa porr*...

    a crise foi produtiva no fim das contas.

    ResponderExcluir
  2. .
    eu me encaixo nos "que chegam depois do carnaval", mas pelo menos não tenho medo de errar, falo pelos cutuvelos!

    ps.: eu tb tenho dois gatos, tem foto deles?
    .

    ResponderExcluir
  3. Sandro, estou passando pela crise do B2. Obrigado pelas palavras encorajadouras.

    ResponderExcluir