domingo, 7 de fevereiro de 2010

OS APÓSTROFOS EM FRANCÊS

Uma das características mais marcantes do francês é a enorme frequência do apóstrofo. Curiosamente, ao longo de quase sete anos como professor, percebo que é um aspecto que passa despercebidos a muitos alunos. Meus pupilos normalmente esquecem de colocar essa vírgula flutuante onde ela é obrigatória ou a escrevem onde ela não poderia estar. E, normalmente, cometem esses erros opostos no mesmo texto!
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Mea culpa: no material didático, o uso do apóstrofo só é explicado de maneira sistemática quando da apresentação dos artigos definidos e dos pronomes-sujeitos. E apenas na primeira unidade do primeiro semestre. O assunto não é retomado depois, até porque aparecem outros temas, mas o fato é que a ortografia é um ponto bastante negligenciado pela maioria dos livros de língua estrangeira. O resultado é que, na falta de instruções mais detalhadas, os alunos seguem a intuição, e essa, creio eu, é orientada pelo conhecimento do inglês. Se, nesse idioma, a escolha entre I am e you are ou I’m e you’re, por exemplo, depende do grau de formalidade do texto, assim também deve ser em francês. Imagino que os alunos pensem assim. Acabam esquecendo que, no início do curso, o professor disse que era proibido escrever, dizer ou mesmo pensar uma monstruosidade como je habite, em vez de j’habite. Além disso, um mínimo de leitura deixa claro que esse tipo de coisa nunca acontece, em nenhum tipo de texto. Meia culpa: culpa compartilhada...
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Bom, mas se o problema é falta de explicação sistemática, lá vai: o apóstrofo é de uso obrigatório quando a vogal final de certas palavras encontra a vogal inicial ou o h mudo da palavra seguinte, e serve para marcar que essa vogal final não é pronunciada. Essa queda de uma vogal se chama “elisão” (élision). Aqui, me refiro especificamente aos seguintes vocábulos: je, me, te, se, le, la, ne, que e de, que viram j’, m’, t’, s’, l’, n’, qu’ e d’. SISTEMATICAMENTE. OBRIGATORIAMENTE. E exatamente porque se fala assim. Se, em vez de pronunciar j’ai (jé ou jê), você soltar je ai (je-é), não vai dizer “eu tenho”, e sim je hais (“eu detesto”, do verbo haïr). Isso seria... detestável.
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Não tenha vergonha de usar tantos apóstrofos quanto for necessário: J’imagine qu’André n’a pas de problème d’argent, parce qu’il t’a acheté un collier en or (“Imagino que André não está com problema de dinheiro, porque ele comprou um colar de ouro para você”). Desculpem o exemplo meio esquisito, não estava muito inspirado.
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Algumas observações importantes:
Si só se torna s’ diante de il. Lorsque (“quando”) só sofre elisão antes de il(s), elle(s), on, en e un(e) – nesse caso, escreve-se lorsqu’. Com quoique (“embora”, “ainda que”) é quase a mesma coisa (quoiqu’), com exceção de enQuoique en ce moment... (“Embora neste momento...).
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O adjetivo possessivo feminino (ma), quando se encontra diante de uma vogal ou de um h mudo, não se transforma em m’, e sim em mon: ou seja, embora la + amie fique l’amie (“a amiga”), ma + amie = mon amie (minha amiga). Até porque mamie significa “vovó”.
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Na regra ortográfica, NUNCA se usa apóstrofo antes de consoante. Mas você já deve ter visto isso, até nas letras de música que eu posto aqui, e as do Yves Jamait são o melhor exemplo. Bom, trata-se de uma representação da língua falada, na qual costumamos “engolir” o e não acentuado e mesmo algumas consoantes ou algumas palavras que, em princípio, deveriam ser pronunciadas. Assim, se você se deparar com algo como i m’dit qu’y a pas d’souci mais j’crois pas qu’tu sois d’accord, saiba que se trata de um modo de retratar a maneira coloquial de pronunciar a frase il me dit qu’il n’y a pas de souci mais je ne crois pas que tu sois d’accord (“ele me diz que não tem problema, mas eu acho que você não concorda”). Mas lembre-se: se você escrevesse assim numa prova, seu texto pegaria sarampo!
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E pelamordedeus: o artigo definido plural (les) não vira l’ nunca-jamais, em hipótese nenhuma! Da mesma forma, não faz sentido usar apóstrofo onde não existe uma vogal para cair, como é o caso do artigo indefinido masculino (un): escrever un’hôtel, em vez de simplesmente un hôtel, é um atentado ao bom senso. E como chatice pouca é bobagem, vou insistir: também não se usa apóstrofo com o artigo indefinido feminino (une).
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Concluindo: acima, falei mais de uma vez sobre “h mudo” (h muet). Explico: não é que exista alguma situação em que o h tenha som, mas algumas palavras começadas com essa letra não admitem élision nem liaison (aquele fenômeno no qual les hôtels se pronuncia “lêzôtél”). Esse h aspiré está devidamente indicado no dicionário com um asterisco antes da palavra ou com alguma marca na transcrição fonológica. E para aprender... só estudando. Assim, mãos à obra!

7 comentários:

  1. ...traigo
    sangre
    de
    la
    tarde
    herida
    en
    la
    mano
    y
    una
    vela
    de
    mi
    corazón
    para
    invitarte
    y
    darte
    este
    alma
    que
    viene
    para
    compartir
    contigo
    tu
    bello
    blog
    con
    un
    ramillete
    de
    oro
    y
    claveles
    dentro...


    desde mis
    HORAS ROTAS
    Y AULA DE PAZ


    TE SIGO TU BLOG




    CON saludos de la luna al
    reflejarse en el mar de la
    poesía...


    AFECTUOSAMENTE
    SANDRO

    ESPERO SEAN DE VUESTRO AGRADO EL POST POETIZADO DE CABALLO, LA CONQUISTA DE AMERICA CRISOL Y EL DE CREPUSCULO.

    José
    ramón...

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  2. Caro Sandro,

    Apreciei muito a leitura do seu texto e já o repassei a alguns amigos que, certamente, o lerão com atenção.

    Talvez vos interesse um texto sobre o uso do apóstrofo em língua portuguesa, onde você é citado quando da referência à influência do idioma francês na poética brasileira.

    Abraço,
    Rilton Primo: riltonprimo@hotmail.com
    Salvador - Bahia.

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  3. Muito bem-vinda a explicação, sanei umas dúvidas.
    Grand merci, professeur!

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  4. Muito Obrigado Sandro..Ajudou muito,porque muitos sites não tem essa definição..

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  5. Sandro, por que não há apóstrofo no Tu as? Ou ainda le yaourte e há no qu'il y a? Obrigada!

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  6. Sandro, por que não há apóstrofo no Tu as? Ou ainda le yaourte e há no qu'il y a? Obrigada!

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