sexta-feira, 6 de março de 2009

A religião aceita a democracia?

Hoje de manhã, li no jornal que uma garotinha de 9 anos, estuprada pelo padrasto e grávida de gêmeos, foi submetida a um aborto. O procedimento foi requerido pela mãe da criança, e a menina estava plenamente de acordo. Os motivos são mais do que justos e conformes à lei: a origem criminosa da gestação e as consequências desastrosas que ela teria na vida da pequena mãe, sem contar os altíssimos riscos à sua saúde. No entanto, o arcebispo de Olinda e do Recife, Dom José Cardoso Sobrinho, quis evitar o aborto, primeiro conversando com a família, depois tentando acionar o Ministério Público, sem se dar ao trabalho de conhecer a lei.
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Felizmente, foi realizada a interrupção da gravidez. A pergunta é a seguinte: quem o sr. José Cardoso Sobrinho pensa que é para intrometer-se em uma questão íntima da vida dos outros? Sua insensibilidade e truculência deveriam chocar todos aqueles que defendem a democracia.
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Evidentemente, as religiões têm todo o direito de se opor ao aborto e fazer propaganda contrária a ele. Têm o direito de dizer que Deus vai mandar para o fogo do inferno todos os ateus, todos os homossexuais, todos os adeptos de outras religiões e seja lá quem for. Mas não têm o direito de interferir dessa forma na vida alheia. Isso se chama desrespeito.
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Caso curioso, recentemente surgiu na Europa, em resposta à propaganda religiosa, uma onda de propaganda ateia, iniciada pela escritora britânica Ariane Sherine. Segue abaixo a foto do anúncio que ela publicou nos ônibus de Londres, que diz o seguinte:
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"Deus provavelmente não existe, então pare de se preocupar e aproveite a sua vida".
O "provavelmente" não constava do texto original, mas foi imposto para não "chocar" os religiosos, que chegaram a alegar que os anunciantes não podiam dizer "Deus não existe" porque não podiam provar isso (!). Essa mensagem bem-humorada foi considerada "ofensiva" por muitas congregações, que solicitaram a retirada do anúncio dos ônibus londrinos. No fundo, eles estão preocupados em defender sua "liberdade religiosa", que é um jeito disfarçado de afirmar que somente eles devem ter liberdade de propagar suas ideias sobre a religião, sem que ninguém mais tenha o direito de criticá-los ou de propor um outro ponto de vista. Mas será que eles esquecem que, num Estado laico, a liberdade de expressão é garantida por lei (para eles, inclusive)? E será que não consideram ofensivo quando representantes da Igreja dizem que homossexualismo é uma degeneração ou que a crença é única base possível para a moralidade?

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