domingo, 8 de março de 2009

Juro que tentei resistir... mas esse arcebispo!

Recebi por e-mail, recentemente, um link para o seguinte artigo:
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http://gazetaonline.globo.com/_conteudo/2009/03/63661-acreditar+em+deus+reduz+ansiedade+e+estresse+diz+estudo.html

Segue a resposta que escrevi (não consegui resistir):

Olá, Érica.
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Li o artigo Acreditar em Deus reduz ansiedade e estresse, diz estudo. Mas gostaria, com todo o respeito e sem querer polemizar, de dizer que sou ateu e não me sinto particularmente ansioso. Aliás, acho que sou bem feliz.
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Só fico estressado quando vejo situações em que um sujeito como "Dom" José Cardoso Sobrinho, arcebispo de Olinda e do Recife, em nome de seus dogmas, busca passar por cima da lei e do respeito devido aos nossos concidadãos. Vocês devem estar a par do caso do aborto praticado em uma menina de 9 anos que foi estuprada pelo padrasto e estava grávida de gêmeos, com inquestionáveis riscos à sua saúde.
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Apesar de o caso ser previsto pela lei por dois motivos (gravidez resultante de violência sexual e, além do mais, risco de morte da gestante) e de a equipe médica ter agido com o consentimento da menina e de sua mãe, o sr. José Cardoso Sobrinho, demonstrando total insensibilidade pelo drama dessa família, tentou acionar o Ministério Público para impedir o procedimento e excomungou a equipe médica e a mãe da criança. Concordo que ele tem todo o direito de excomungar quem ele quiser, dentro da autoridade que sua instituição lhe concede. Mas o fato é que ele se valeu do caso para fazer propaganda de sua doutrina, agindo como se tivesse o poder de impô-la sobre aqueles que não a seguem: não tendo conseguido convencer a família com seus frágeis argumentos, tentou forçá-la a obedecê-lo. Só lembrando: o Estado é laico e não deve basear sua ação na visão de mundo católica. Espero vivamente que esse caso ajude nossa sociedade a compreender como pensam realmente esses senhores supostamente tão "bondosos".
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Por outro lado, mesmo sem ser cientista, a leitura do artigo me mostra que outras conclusões (ou outras maneiras de mostrar as conclusões) são possíveis. Dou o exemplo de duas:
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1) Ateus tem mais capacidade de aprender com seus erros. Lembre-se que, de acordo com as informações dadas no artigo, a ansiedade tem uma função útil (nos avisar quando fazemos algo errado). Além disso, a área em que os ateus têm mais atividade é aquela que "ajuda a modificar o comportamento ao sinalizar quando são necessários mais atenção e controle, geralmente como resultado de algum acontecimento que produz ansiedade, como cometer um erro" (grifo meu). Não se pode esquecer que, nessa área do cérebro, não tem uma plaquinha dizendo "lugar da ansiedade".
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2) Crenças religiosas têm o poder de aliviar a ansiedade em pessoas extremamente carentes. Com todo o respeito, é assim que me parece alguém que precisa de Deus para dar sentido à sua vida - eu e diversas pessoas que conheço dão sentido às suas vidas de outra forma: no meu caso, o amor por meus próximos e as alegrias da amizade dão sentido à minha existência, além da luta pela defesa do meio ambiente e pela construção de um mundo mais justo e tolerante.
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Não acredito nem no 1, nem no 2. O que quero dizer é apenas que há maneiras diferentes de interpretar / apresentar os resultados obtidos.
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Por outro lado, conhecemos pessoas em cuja vida a religião desempenha papel bastante negativo: pessoas que morrem de medo de ir para o inferno, pessoas que se isolam de sua família por discordâncias de ordem religiosa, pessoas que são sacrificadas em guerras “santas”, meninas que têm o clitóris removido em alguns países islâmicos, pessoas que sofrem perseguição de religiosos por suas idéias ou por sua orientação sexual, pessoas que são exploradas por seitas mal-intencionadas...
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A lista é longa. Eu poderia incluir os padres que sofrem com o celibato (que não fazia parte do cristianismo original, mas que, séculos depois da morte de Jesus, foi imposto aos sacerdotes da igreja católica por razões que não são realmente de ordem teológica). Talvez seja esse sofrimento o que leva diversos padres a se envolver em casos de abuso contra menores. Mas, nas palavras do sr. José Cardoso Sobrinho, “o aborto é um crime mais grave do que a pedofilia”. Então tá.
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P.S.: O arcebispo de Olinda e do Recife não excomungou o padrasto estuprador.

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