segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Amadou et Mariam

No intervalo de minha aula de sábado, coloquei um disco de Amadou e Mariam, para que meus alunos tivessem um contato com a música envolvente desse casal maliense cuja história você pode conhecer clicando aqui. Para ter uma ideia do som que eles fazem (e aproveitar para "saborear" o sotaque africano), é só conferir os vídeos abaixo. As letras, como sempre, encontram-se nos comentários.
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Je pense à toi
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Beaux dimanches
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Chantez chantez

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Sénégal Fast-Food
Clique aqui para ver o clipe.
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Já trabalhei em sala algumas dessas canções: Beaux dimanches, com seu vocabulário típico do Mali, ilustrou uma aula sobre a diversidade da língua francesa; Sénégal Fast-Food me permitiu discutir com meus alunos diversas questões relativas à mondialisation (globalização) e, também, levá-los a perceber a maneira como o texto poético, bastante fragmentado, constrói uma narrativa. O clipe, por sua vez, não só ajuda a enteder a história, mas também a completa.
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Mas tanto Chantez chantez quanto Je pense à toi poderiam aparecer em uma aula sobre o imperativo, sobre os pronomes tônicos ou sobre a expressão da restrição em francês.
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P.S.: Como as estrelas de hoje são do Mali, lembrei que em Amssétou, canção de Mathieu Chedid  que mostrei aqui num dia desses, encontramos um jogo de palavras muito bacana: depuis que je suis loin de toi, je fais moins le Malien ("desde que estou longe de você, me faço menos de maliense", numa brincadeira com a expressão faire le malin, "dar uma de esperto").

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Prato "chics": Langue de bœuf en sauce

Muita gente pensa que alguns ingredientes são “chiques” e que outros não são dignos de chegar a mesas mais finas. Vejo pessoas que têm preconceito contra delícias como o músculo bovino e que ficam um pouco chocadas quando descobrem do que é feito meu bœuf bourguignon. Na verdade, para ficarmos no açougue, vamos deixar combinado que não há partes “nobres” e “plebeias” do boi – cada uma tem um uso específico: se você trocar o músculo por filet mignon, na receita mencionada acima, vai se decepcionar. (Aliás, é bom saber que, em francês, o termo filet mignon é, normalmente, usado para carne de porco; o bife de carne vermelha é mais conhecido como filet de bœuf.)
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Mas isso de que eu acabo de falar é, acima de tudo, certo preconceito. Também tem outra coisa que me incomoda, que é a frescura e o medo de experimentar. Assim, algumas pessoas sentem calafrios ao ouvir falar em buchada de bode, mas já comentei aqui sobre minha admiração por esse prato requintado. A dobradinha, por si só, é um espetáculo para quem tem bom paladar, ainda mais preparada dessa forma.
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Hoje, gostaria de escrever uma receita para outro corte muito injustiçado: a língua. Se você contar por aí que aprendeu uma receita de língua com legumes, provavelmente vão te olhar com uma cara de eca. Então diga que vai preparar uma langue de bœuf en sauce escortée de carottes et poireaux émincés (“língua de boi ensopada acompanhada de cenoura e alho-poró cortados em filetes”). Garanto que a receptividade vai ser maior!
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A receita é trabalhosa e vai te ocupar por cerca de duas horas. Além disso, não é propriamente barata e exige um monte de ingredientes. Enfim: Quer coisa melhor? Olha como fica lindo:

Ingredientes para 4 pessoas:
Língua
1 língua de boi de mais de 1 kg
2 folhas de louro
4 cravos
1 pedaço pequeno de canela
1 pedaço de anis-estrelado
2 folhas médias de louro
Grãos de pimenta-do-reino (a gosto)
Sal (pouco)
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Molho
4 tomates médios bem maduros, cortados em cubos
1 cenoura grande ralada
2 cebolas médias picadas
4 dentes de alho
1 bouquet garni com salsa, tomilho e 1 raminho de alecrim
Curry (a gosto, mas com moderação para não sobressair demais)
Pimenta síria (mesmas instruções que para o curry)
Canela em pó ou noz-moscada (uma pitada de levinho)
Maisena
Um pouco de óleo
Salsa picadinha para decorar
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Acompanhamento
Batatas cozidas al dente no vapor
Cenouras cortadas em tiras finas
Alho-poró cortado em fatias finas (pegue bem a parte das folhas, para ter um verde bem vivo)
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Modo de preparo
Tempere todos os legumes de acompanhamento com óleo de oliva e um pouco de sal e leve-os ao forno baixo, em refratários untados com azeite. Dê uma conferida de vez em quando para não deixar nada queimar. As cenouras vão desidratar um pouco, ganhando uma textura levemente crocante e acentuando seu sabor adocicado.
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Lave bem a língua e coloque-a em uma panela de pressão com os temperos. Cubra de água, tampe e deixe na pressão por 15 ou 20 minutos. Ao fim desse tempo, passe tudo pelo escorredor de macarrão (reserve os temperos – você vai colocá-los de volta no molho), deixe esfriar e depois, com uma faca bem afiada, corte a pele grossa que envolve a língua.
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Comece a preparar o molho: na panela de pressão: esquente o óleo e doure as cebolas e o alho. Acrescente os tomates, a cenoura ralada, o bouquet garni e a língua com os temperos do cozimento anterior. NÃO coloque sal. Acrescente água até cobrir, tampe e leve de novo à pressão por mais 10 minutos.
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Ao final desse tempo, recupere a língua e deixe-a esfriando. Passe o caldo no chinois (peneira de metal em forma de cone), apertando bem para extrair o máximo de líquido. (Também dá para passar no liquidificador, lembrando de retirar o bouquet garni antes, e peneirar em seguida.) Descarte a parte sólida peneirada e leve o molho de volta ao fogo (alto), acrescentando o curry, a pimenta síria e a canela. Enquanto isso, corte a língua em escalopes. Quando metade do caldo tiver evaporado, acerte o sal, coloque de volta os pedaços de língua para aquecer e acrescente 1 colher de sopa de maisena dissolvida em água fria, mexendo bem para espalhar. Quando o molho adquirir a consistência desejada, é hora de servir, preferencialmente com um bom vinho tinto.
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P. S.: De outra vez que preparei essa língua, enriqueci o molho com um pouco de cachaça envelhecida em carvalho e servi com polenta – ficou maravilhoso.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Mais algumas coisinhas sobre discours rapporté

Minha última postagem fala sobre discours rapporté, um dos maiores calos no pé de quem estuda e ensina francês, mas não dei grandes indicações sobre como estudar o tema. Para me redimir, escolhi um site bacana que propõe a explicação e depois o exercício:
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Discours rapporté no presente:
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Discours rapporté no passado:


Antes de pôr a mão na massa, é interessante olhar a página página 28 do dossier do Intermediário 1, que dá uma série de verbos usados no discours rapporté, além de indicar as principais construções nele envolvidas. A partir da p. 44, o dossier também conta com um pequeno guia de conjugação verbal. (Esse guia busca levar o aluno a entender o funcionamento das conjugações em francês; em situações de urgência, a melhor solução é http://www.leconjugueur.com/)

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Para que ninguém reclame de falta de informação, seguem umas explicações que eu tirei de um artigo da Wikipédia:
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Transposition du temps des verbes

Si le verbe introducteur est au présent ou au futur, il n'y a aucun changement de temps dans l'énoncé cité :

Il me dit : « Je suis sûr que tu réussiras. » àIl me dit qu'il est sûr que je réussirai.

Si au contraire, le verbe introducteur est au passé (simple, composé ou imparfait), le présent de l'indicatif devient imparfait de l'indicatif, le passé simple ou le passé composé de l'indicatif deviennent plus-que-parfait de l'indicatif et le futur simple devient présent du conditionnel (c'est la « concordance des temps du discours rapporté ») :

Il m'a dit : « Je suis sûr que tu réussiras. » àIl m'a dit qu'il était sûr que je réussirais.

Synthèse :
Il dit: « Tu es en retard. » àIl dit que tu es en retard.
Il dira: « Tu as faim. » àIl dira que tu as faim.
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Il a dit: « Tu lis beaucoup. » àIl a dit que tu lisais beaucoup.
Il a dit: « Tu as reconnu Bill. » àIl a dit que tu avais reconnu Bill.
Il a confirmé: « Tu porteras une superbe robe. » àIl a confirmé que tu porterais une superbe robe.

ATTENTION : l'imparfait, le plus-que-parfait et le conditionnel restent inchangés !
« Il pleuvait. » àIl a dit qu'il pleuvait.
« J'avais commis des erreurs. » àIl a avoué qu'il avait commis des erreurs.
« Je ne ferais pas ça. » àIl a dit qu'il ne ferait pas ça.

Écologie et discours rapporté

Sexta-feira passada, depois de uma bela chuva de ideias, propus a meu grupo de Intermediário I um projeto para encerrar o semestre: a redação de pequenos textos sobre atitudes simples que podemos adotar em nosso cotidiano para ajudar a preservar nosso planeta. Esses textos serão devidamente revisados e farão parte de um site que vamos colocar no ar para expor o trabalho de todos e fazer passar essa mensagem tão importante.
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Como, além do trabalho sobre uma temática precisa, também temos um programa de conteúdos gramaticais a abordar (a retransmissão do discurso de outrem, ou discours rapporté), resolvi juntar os dois numa só proposta. Assim, os textos deveriam discorrer sobre um assunto específico citando ao menos cinco outras pessoas. Para facilitar a tarefa, resolvi desenvolver um tema ligado ao assunto, a fim de que os alunos tivessem uma noção precisa do que eu tinha em mente: um treinamento sobre a concordance des temps, que são as alterações sofridas pelos tempos verbais do texto original quando o verbo introdutor do discours rapporté se encontra no passado. .
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Dá para perceber que o negócio é espinhoso, ainda mais porque exige toda uma revisão dos tempos verbais, além do domínio de conteúdos trabalhados anteriormente (voz passiva, pronomes COD e COI, gérondif e participe présent...). Daí a importância de dar um exemplo. Fiz, portanto, um texto intitulado Résister à la société de consommation, no qual coloco em prática o que quero que meus alunos aprendam. A finalidade pedagógica me levou a forçar um pouquinho a barra  algumas alterações de tempos verbais não eram necessárias e há, evidentemente, um excesso de citações, mas tentei demonstrar algumas estratégias de discurso indireto, que vão da cópia quase direta à paráfrase que busca resumir e facilitar..
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No arquivo em .docx que você pode baixar clicando aqui, você encontrará, à esquerda, meu texto, que contém diversas marcas para chamar a atenção sobre o uso de conteúdos gramaticais trabalhados recentemente em sala de aula: os pronomes COD e COI estão em azul; os gérondifs e participes présents, em verde; os verbos ou expressões que introduzem o discours rapporté, em vermelho; os nomes das pessoas citadas estão em negrito e as citações indiretas, sublinhadas. À direita, você encontrará as frases citadas, com fonte cinza (perceba como alguns textos mais longos ou elaborados foram reformulados de maneira mais simples).

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Mais umas do meu cantor preferido

Em minha aula da última sexta-feira, tratando de um tema um tanto árido (o uso do gérondif e do participe présent, que você pode entender um pouco melhor clicando aqui), resolvi apresentar a meus alunos Le roi des ombres, canção presente em Mister Mystère, último álbum de Mathieu Chedid. 
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Àqueles que estiveram comigo e àqueles que gostam de música, ofereço o clipe dessa música e o de duas outras, na ordem em que elas aparecem no disco. Pode-se perceber a recorrência de alguns personagens e de certas imagens nos clipes. Vale lembrar que Mathieu Chedid criou uma espécie de alter ego, M, que se caracteriza pelas roupas excêntricas e pelo inconfundível penteado. O universo desse personagem caracterizou os três primeiros discos do artista (Le baptême, Je dis aime e Qui de nous deux - álbuns de estúdio, sem contar os ao vivo e os experimentais). 
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Em sua obra mais recente, que apareceu depois de 6 longos anos sem um disco solo com composições inéditas, Mathieu começou uma nova fase, marcada por um progressivo abandono do personagem que ele havia interpretado até então. O penteado esdrúxulo deu lugar a uma peruca, e o preto e branco substituiu os tons mais esfuziantes  encontrados nos clipes anteriores. Nos vídeos abaixo, podemos encontrar alguns passos dessa "libertação". A letra das três canções se encontra nos comentários.
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Est-ce que c’est ça?
Le roi des ombres
Amssétou

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

ACABOU A CAMPANHA

Acabou a campanha eleitoral. O Brasil elegeu sua primeira presidenta e acredito que teremos pela frente um horizonte melhor do que teríamos com a dupla PSDB/DEM. Em outras palavras, estou contente com o resultado! Não que vá me limitar a defender Dilma. Pelo contrário: passado esse momento, cabe a todos nós exercer nossa vigilância e nossa crítica, sem deixar de perceber os limites da ação dos poderes constituídos: parte importante da democracia se faz fora das urnas, pela ação dos cidadãos. Mas, nesse momento, vou comemorar um pouco, com licença.
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Em 2002, após a onda de pânico que o horário eleitoral dos tucanos tentou disseminar, simbolizada pelo célebre vídeo de Regina Duarte, a frase que resumiu a vitória de Lula foi A ESPERANÇA VENCEU O MEDO.
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Oito anos depois, com a campanha de Serra tendo sido manchada pelo ódio de setores religiosos fundamentalistas, por uma boataria sem nome (com a esposa do candidato do PSDB indo a igrejas dizer que Dilma "manda matar criancinhas"), pela atuação de uma imprensa que tentou como nunca manipular o público, acho que podemos cunhar uma nova frase: A VERDADE VENCEU A MENTIRA.
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Desculpem-me pelo entusiasmo mas, para mim, é um momento de alegria. Grande abraço.