O Senado francês aprovou, na última terça-feira, uma lei que proíbe a dissimulação do rosto em espaços públicos, como você pode conferir no site France24. Antes de ver a reportagem, é interessante ler o texto (que não é uma transcrição), para ter uma compreensão melhor. Quem viu o jornal sabe que a grande discussão gira em torno do fato de que, na prática, essa medida atinge essencialmente as mulheres muçulmanas que usam a burca ou niqab, ou seja, o véu que encobre a totalidade do corpo.
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Quem leu minha postagem Multiculturalismo e burca sabe bem o que eu penso do assunto. De qualquer forma, é importante que todos prestem atenção ao fato de que a cobertura jornalística está dando umas derrapadas ao tratar do assunto, seja para gerar polêmica, seja simplesmente por querer simplificar demais a questão. Assim, vamos a alguns esclarecimentos sobre o assunto.
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Primeiro: é importante lembrar que existem vários tipos de véu, e que a lei francesa se refere somente a um deles (o niqab). Clicando aqui, você pode conhecer os quatro principais.
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Segundo: é preciso lembrar que, mesmo no mundo muçulmano, o uso do véu não é unanimidade. Clique aqui para para ler a reportagem de France24. Aliás, como você poderá ver, alguns países muçulmanos são ainda mais restritivos nessa matéria do que a França.
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Terceiro: para os defensores da religião de plantão, o uso do véu não é uma prescrição do Islã, mas uma tradição. Ou seja, não faz parte da religião islâmica, é simplesmente um costume de diversas populações. (E um sinal de opressão da mulher, na minha opinião, mas deixa baixo.)
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Quarto: a todos aqueles que gostam de tirar conclusões antes da hora, é bom lembrar que o simples fato de o Senado francês ter aprovado essa lei não significa, mecanicamente, que todos os franceses estejam de acordo com ela. Confira o artigo do Wikipédia sobre o uso do véu islâmico na França. Não esquecendo também que, no caso dessa votação no Senado, houve uma abstinência de uma grande parte dos parlamentares, especialmente os de esquerda.
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Assim, aproveite para se inteirar do assunto, praticando a leitura em francês. E sinta-se à vontade para dizer o que você pensa nos comentários!
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P.S.: Em francês, a palavra masculina voile significa "véu" (também se pode dizer foulard, "lenço"). Se for feminino, voile significa "vela" (tanto o esporte náutico quanto a vela do barco).
Cet article,comme les autres, est remarquablement bien écrit et très clair.
ResponderExcluirIl est pour moi l'occasion de faire un point sur des éléments de contexte.
En effet, dans ce débat, qui est récurrent en France, il me paraît utile de rappeler l'importance de la laïcité dans la construction de l'identité nationale française, démocratique et républicaine.
Les valeurs républicaines, basées sur les grandes libertés publiques et fondamentales édictées sous la IIIe république, sont le socle de l'appartenance à la nation française.
La laïcité est l'un de ces grands principes. Édictée à la fin du XIXe siècle pour affirmer l'indépendance du pouvoir républicain vis-à-vis de l'Eglise catholique, elle a, tout au long du XXe siècle, été mise à l'épreuve de l'évolution de la société française.
Le fait que l'islam soit aujourd'hui la 2E religion de France pose une question sur l'identité française (l'actuel gouvernement fraçais a même un minsitre de l'Education et de l'identité nationale, ce qui avait provoqué beaucoup de mécontentement).
En effet, être français, est-ce en priorité et par dessus tout adhérer aux valeurs de la République (accès à la nationalité française aux étrangers immigrés qui la demandent, l'école libre gratuite et obligatoire, la liberté de la presse, la liberté de conscience, la liberté religieuse etc...héritage dit "révolutionnaire")ou bien, finalement être française est un héritage plus ancien, avoir un nom français, être de sang français, être de de culture catholique etc...(héritage dit "chrétien").
La laïcité repose sur trois piliers, tous aussi importants les uns que les autres: la liberté de conscience, l'égalité entre les religions et la neutralité de l'Etat.
Il s'agit de principes équilibrés, aucun ne primant sur l'autre.
En outre, la liberté de conscience et de culte trouve sa limite dans le principe de maintien de l'ordre public: si l'expression d'une religion ou la manifestation d'un culte est un trouble à l'ordre public, alors il convient de l'encadrer, de la limiter, de l'interdire.
Le problème est qu'en France, en ce moment, on a tendance à invoquer un peu trop facilement la notion de trouble à l'ordre public (cf l'attitude du gouvernement contre les Roms).
Ici, dans la question du voile il s'agit de permettre à la fois l'expression de la liberté religieuse (le droit de porter le voile) et la liberté de conscience et d'émancipation de chaque individu (le droit de ne pas le porter contre son gré).
Le sujet est aussi un sujet politique. Les exemples de provocation par le port du voile intégral, la demande d'avoir des horaires "spécial femmes voilées" dans les piscines etc....sont souvent introduits par des militants dont le propos est plus politique que religieux.
A titre personnel, je ne peux que vous conseiller de prendre connaissance des textes suivants (les trouve-t-on au Brésil? that is the question!!!)qui permettent de faire le tour de la question (une approche universitaire, un exemple institutionnel, un témoignage et un BD humoristique):
- Citoyenneté à la française, Sophie Duchesne, 1997
- rapport Stasi sur la laïcité et la République (2004)
-Bas les voiles, de Chahdortt Djavann (2003)
- Burqa Fashionista de Peter De wit
voilà!!!
Emmanuelle
Erratum: c'est un ministère de l'Immigration et de l'identité nationale!
ResponderExcluirConcordo com sua análise, entretanto não podemos deixar sempre de lembrar que a França é o berço da liberdade e trata-se de um ato que a meu ver deveria partir do povo. Com relação ao véu, diversas religiões tem suas culturas, não me entenda mal, não estou defendendo a utilização do véu ou do celibato para padres da igreja católica ou até mesmo no caso dos esquimós que oferecem as esposas aos visitantes, mas tratam-se de culturas religiosas que devem ser respeitadas, pois senão estariam em contradição com o verdadeiro significado da palavra "LIBERTÉ".
ResponderExcluirBon dimanche
errata: tratam-se de culturas
ResponderExcluirLuciane, entendo sua posição. Mas gostaria de lembrar que a lei francesa proíbe as pessoas de cobrir completamente o rosto em público, o que vale para qualquer tipo de vestimenta que faça isso. Dessa forma, não se trata de uma lei específica sobre a burca. Além disso, outros tipos de véu usados por mulheres muçulmanas não são proibidos.
ResponderExcluirAlém disso, cabe ressaltar mais uma vez que o uso da burca não tem nenhum fundamento religioso no Islã e é, apenas, um costume da tradição wahhabita.
A tolerância a culturas estrangeiras, por outro lado, não pode ser ilimitada. Por exemplo, no Irã dos aiatolás, a lei determina que mulheres adúlteras devem ser apedrejadas. Será que devemos "respeitar" isso, que contraria nossas leis fundamentais ?
Quero dizer que se, por motivos de segurança, nenhum indivíduo pode circular em espaços públicos com o rosto coberto, a lei deve valer para todos.
Seria interessante você dar uma olhada no texto de Élisabth Badinter que está neste blog, na postagem "multiculturalismo e burca", assim como o comentário da leitora "Iman".
Abraço.