Acabo de assistir Tous les matins du monde (deve ser Todas as manhãs do mundo em português), que me foi passado por minha ex-aluna Danielle. O título, que à primeira vista soa estranho, vem do aforismo "Tous les matins du monde sont sans retour" ("todas as manhãs do mundo são sem volta").
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Trata-se de um filme de época que foi rodado em 1991 e que tem um traço do cinema francês que muita gente estranha: a grande quantidade de silêncios. Diferentemente das produções um tanto verborrágicas às quais estamos habituados, esse filme nos permite sentir melhor o ritmo do passado e, sobretudo, apreciar a magnífica interpretação dos atores. A reconstiuição histórica é impressionante (pelo menos, é o que parece para um leigo como eu), e ainda dá pra ter um gostinho da música daquela época. Não sei se dá para encontrar esse filme nas locadoras de Vitória, mas há vários trechos disponíveis no Youtube. Aqui segue o trailer:
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Para os alunos de francês, será particularmente interessante reparar em alguns traços seiscentistas: formas verbais como je puis (em vez de je peux), hoje reservada à língua erudita; o uso de père, e não papa, para dirigir-se ao pai; a negação feita apenas com o ne; e o emprego de vous entre pessoas próximas (pais e filhos, marido e mulher - tratamento extremamente incomum nos dias de hoje).
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Com relação a esse último ponto, é interessante perceber que as filhas de M. de Sainte-Colombe (o professor de viola) dirigem-se a ele usando a forma vous mas, em momentos de maior emoção, passam ao tu. Há um exemplo no trailer, quando Toinette (a ruiva, à esquerda) grita: Attendez, père, attends ! Essa oscilação tu-vous é rara hoje em dia, justamente porque o uso de vous é mais restrito do que no século 17.
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Se você não encontrar Tous ls matins du monde em sua locadora, alugue Molière, do qual já falei neste blog. É um filme completamente diferente (talvez mais ao gosto do público brasileiro) mas, como se passa no século 18, também é muito interessante do ponto de vista linguístico.
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P.S.: Eu, pessoalmente, sempre assisto um filme, sem preposição. É assim que 99% dos brasileiros (que constituem a maioria esmagadora dos falantes de português) falam espontaneamente, e eu não vejo problema nenhum nisso. Se os portugueses usam a preposição, isso é com eles: gosto muito de nossa maneira de falar.
Talvez eu já tenha indicado, mas falando em filme histórico sempre lembro de L'Anglaise et le duc. O diretor, Eric Rohmer, se baseou nos diários de Grace Elliot, uma inglesa monarquista que vivia na França na época da Revolução e, sinceramente, a história que ele constrói não perde em nada para um livro de historiador que tratasse do tema. O desafio é mostrar a Revolução popular do ponto de vista da aristocracia.
ResponderExcluirEnfim, ainda não vi Molière... A lista de filmes para baixar é sempre supera a capacidade da minha conexão...