Acabei de descobrir um site fantástico: trata-se de um dicionário on-line francês-português de expressões idiomáticas, elaborado e mantido pelo CNRTL (Centre National de Ressources Textuelles et Lexicales). Todas as entradas contêm exemplos, o que é muito útil. Não há uma quantidade muito grande de expressões, mas as traduções são corretas e, o que é uma vantagem para nós, as equivalências são dadas em português brasileiro. Aproveitem bem essa fonte de informação clicando AQUI.
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terça-feira, 22 de novembro de 2011
domingo, 6 de novembro de 2011
Alguns pratos do Norte da França
Já faz tempo que não dou as caras por aqui. Assim, para cumprir uma promessa que fiz lá por volta de março, se não me engano, vou falar um pouco mais sobre o Norte da França, região pouco conhecida pelos brasileiros, que normalmente associam aquele país à imagem da capital ou da Côte d'Azur. Já escrevi sobre o Carnaval de Dunkerque; hoje, vou falar da culinária daqueles cantos, mostrando fotos de pratos que saboreei naquela cidade e em Lille. Clique nos nomes dos pratos para acessar as receitas (em francês). Por falar nos nomes, você verá que muitos deles são em flamand (flamengo, me português), idioma da família do holandês, falado na região de Flandres, que se estende da França à Bélgica.
Moules-frites: Combinação clássica do Nord, que também faz grande sucesso na Bélgica. Aliás, há quem diga que as batatas fritas foram inventadas pelos belgas; o fato é que elas são o feijão e arroz deles: indispensáveis. E outro fato é que quem acha que conhece batatas fritas porque comeu aqueles pedaços de isopor vendidos no McDonald's está redonda, retangular e quadradamente enganado.
Bom, quem for à pontinha de cima da França vai descobrir que, lá também, quase todos os pratos vêm acompanhados desses palitinhos deliciosamente crocantes. Para quem torcer o nariz para a combinação de fritas com mexilhões, um pequeno conselho: come e não te arrependerás! Realmente, o que à primeira vista parece inusitado se mostra uma grande sacada depois da primeira mordida.
Serve-se assim mesmo, como se vê na foto: dentro da casca. Você vai pegando, comendo, bebendo o caldinho. Sans chichi (sem frescura)! Há diversas maneiras de preparar os moluscos - abaixo, vemos moules marinières, que levam vinho branco, cebola e salsa, entre outros ingredientes. Clicando no link para a receita, você vai perceber algo interessante: na França, mexilhões são medidos por litro, não por peso.
(Foto minha)
Welsh / Welch / Welche: Trata-se de uma bomba calórica, mas de uma bomba atômica. Pão embebido de cerveja (e a de lá é bem mas forte do que a nossa), presunto, ovo, queijo cheddar... Combinado com batatas fritas, que é para meter o pé na jaca direito. Estômagos sensíveis, passem à próxima receita.
(Foto minha)
Flammekueche: Parece uma pizza de massa fina, se a licença poética me permite. Mas o molho de tomate não dá as caras. Na verdade, o flamm' que eu comi era à base de cebola, creme de leite e bacon . Ótimo para acompanhar a cerveja. Hmmm, meio pesado, mas muito bom!
(Foto minha)
Pot'je vleesch: O termo, que tem bem mais de uma ortografia possível, significa "pote de carnes" em flamand. Pense nos termos ingleses pot e flesh (em inglês, pelo que eu sei, flesh é usado em oposição a spirit e não costuma designar a carne que se come, mas é só para registrar o parentesco etimológico, já que o flamand é um idioma germânico). Trata-se de carnes brancas (coelho, frango, vitelo) marinadas e cozidas no vinho branco com cebola. São servidas frias, em sua "gelatina". Simplesmente uma delícia! A receita do link acima é a mais simples que encontrei, mas senti falta do zimbro (genièvre), que é presente em numerosas variantes e dá um toque muito especial. Pessoalmente, acho que ele entra perfeitamente bem no logar do tomilho (thym).
(Foto minha)
Salada com peixes defumados / em conserva: Não precisa dizer muita coisa. Só que, sinto muito informar, prefiro nem buscar uma receita, já que essa bela salada depende de produtos que dificilmente podem ser improvisados em casa. Claro que o salmão defumado, você encontra à venda no Brasil sem grandes dificuldades. Mas para comer os camarõezinhos defumados e o kipper (o peixe que você vê ao lado das torradas), só indo a Dunkerque mesmo. De qualquer forma, fica a ideia para uma salada que vale uma refeição. Sirva com uma bela vinaigrette (mostarda de Dijon, vinagre e azeite).
(Foto minha)
Steak au Maroilles: Outra que eu vou deixar sem receita, pelo fato de que o Maroilles é um queijo (maravilhosamente fedorento) que só se encontra lá por aquelas bandas. Fora isso, o prato não parece ter grandes mistérios. Mas é outra inspiração para você.
(Foto minha)
Carbonnade flamande: Grande clássico. É como se fosse o Boeuf bourguignon do Norte, mas há muitas diferenças: a carne de boi (eu aconselharia músculo - gîte -, que é o melhor corte para ensopado, na minha opinião) é cozida na cerveja, não no vinho, e acompanhada de pain d'épices (você pode fazer essa receita) e, evidentemente, de fritas. Outra grande diferença para o Boeuf bourguignon é o sabor ligeiramente adocicado do caldo. Memorável!
(Foto tirada da internet)
Plateau de fruits de mer: Désolé. Só indo ao Norte. Coloquei aqui pra te deixar com água na boca e te avisar que, por lá, os frutos do mar são servidos geladinhos, acompanhados de vinaigrette e um delicioso molho à base de cebolas roxas e vinaigre de vin (vinagre de vinho tinto muito saboroso).
(Foto minha)
Andouillettes: Tenho uma história engraçada com essas linguiças de miúdos de porco, que são outra especialidade francesa, para as quais não conheço nada parecido por aqui. A primeira vez que comi isso foi em 2004, em minha primeira viagem à França. Já tinha lido a respeito e tinha curiosidade. Na primeira garfada, um choque. E uma enorme dificuldade de engolir. Aprecio sabores fortes e tenho a mente aberta para novas experiências culinárias, mas não dei conta. Mesmo detestando, tentei comer quatro pedaços, sempre tentando me convencer de que meu paladar ia "se reconfigurar" e ficar menos etnocêntrico. Mas não deu. Em 2010, no entanto, dei uma nova chance às andouillettes e tudo correu bem: achei muito bom. Disso, tirei uma lição que compartilho com vocês: quando a gente vai a algum lugar e nos apresentam um prato regional, sempre vale a pena provar. Mas se acontecer de a gente achar ruim, é preciso dar uma nova chance - pode ser que aquela preparação que você comeu não esteja muito bem-feita. Assim, é sempre importante se segurar antes de tirar conclusões.
(Foto minha)
Pieds de cochon: Sem grande mistério, né? Deliciosos pés de porco fritos. Nada melhor depois de um dia de trabalho...
(Foto minha)
Waterzooi / Waterzoï: Para terminar esse longo post e ir fazer meu almoço (já estou morrendo de fome), um grande clássico do Norte. Trata-se de peixe, muitas vezes cabillaud (que é o bacalhau antes de ser salgado) cozido com legumes, vinho branco e creme de leite. Simples e gostoso. Há receitas que acrescentam outros peixes ou até mexilhões, outras que substituem o peixe por frango... Waterzooi significa "cozido branco", e o water tem, sim, parentesco com white. Na foto abaixo, creio que usaram salmão.
(Foto tirada da internet)
Talvez você esteja horrorizado(a) com esses pratos engordiet. Claro que, no dia a dia, o ideal é segurar um pouco a onda, mas nunca se oferecer esses prazeres, quando não se tem nenhum problema grave de saúde, é de uma tristeza sem fim. Thomas Dutronc canta sua revolta contra a ditadura das dietas em Les frites, bordel, canção que faz uma reflexão bem-humorada (mas séria, no fim das contas) sobre a filosofia de nossa comida e sobre a nossa solidão. A meu ver, temos aqui um convite ao hedonismo, uma chamada à révolution du saucisson. Abaixo, confira o clip da versão em estúdio:
A letra, como de costume, está no comentário, para ocupar menos espaço. Veja abaixo uma versão ao vivo, em que Thomas Dutronc torna a letra ainda mais divertida. Bom treino para a compreensão oral.
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