Um dos assuntos que vêm sendo mais debatidos nos últimos dias é o fim da exigência de diploma para o exercício da profissão de jornalismo. Você pode se perguntar por que diabos eu resolvi falar disso. Afinal, eu sou professor de francês. Mas a verdade é que, antes de começar meu curso de Letras, fiz dois anos de Jornalismo. O fato de eu ter desistido da profissão já fala por si, mas eu gostaria que você entendesse melhor a situação.
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Lembro-me, sem saudade, de alguns professores “morcegos” e de outros, como os de Economia e de Psicologia, que nos davam aula porque eram proibidos de ensinar os alunos de seus respectivos departamentos. Também não esqueço de nosso laboratório mal-equipado e da imensa facilidade com que alguns colegas pouco aplicados tiravam 10. Em meus pesadelos, ainda me recordo de quando fazíamos uma disciplina chamada “Expressão oral e escrita em jornalismo 1”: nossa “prática”, no laboratório, consistia em adaptar notas de jornal impresso para texto de TV. Foi a mesma coisa durante todo o semestre. E a professora nunca simpatizava com o que eu escrevia. Se fosse só eu não saber escrever para TV, até que vá, eu realmente acho que não dava pra coisa, mas o problema é que ela continuava em pé do meu lado, batia palmas para chamar a atenção de toda a turma e berrava: “Olha, gente, isso aqui não pode fazer, não: o colega de vocês escreveu portanto no texto dele”. Em meus tempos de escola primária, nunca fiquei de castigo ajoelhado em cima de grãos de milho nem usei orelhas de burro, mas acho que aqueles constrangimentos semanais me deram uma ideia precisa de qual deve ser a sensação.
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Evidentemente, o curso teve muitos pontos positivos, especialmente no que se refere às disciplinas não-específicas da área de jornalismo: psicologia, filosofia, antropologia, estética da arte... Mas gostei muito de fotografia e de teoria da comunicação, também. Por outro lado, depois que saí, o currículo do curso foi reformulado e o laboratório foi reequipado.
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De qualquer forma, o que mais me interessa é como mudei de lá para cá: durante aqueles meus primeiros semestres de Ufes, estava convicto de que era marxista-comunista e, se a exigência de diploma fosse revogada naquela época, tenho certeza de que eu praguejaria contra “o governo neoliberal que está lesando os direitos da classe jornalística para beneficiar o baronato da mídia”. (Acho que, se tivesse a oportunidade, também participaria de uma passeata ostentando bótons de “Fora FHC, fora FMI”.)
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Ontem, no entanto, na fila do supermercado, folheio a Veja e olho o editorial, que se posiciona a favor da medida do STF: segundo a revista, a exigência do diploma para o exercício da profissão de jornalista era uma herança da ditadura militar (foi implementada em 1969, o que já é bastante significativo) e cerceava o direito à livre expressão. Convém lembrar que semelhante exigência não existe em países como Alemanha, Argentina, Austrália, Bélgica, Chile, Dinamarca, Espanha, Estados Unidos, Finlândia, França, Grécia, Holanda, Irlanda, Itália, Japão, Reino Unido, Suécia e Suíça. E que a não-obrigatoriedade do diploma não diminui necessariamente o valor de mercado da formação em jornalismo (mas certamente não estimula a criação de 200 faculdades de fundo de quintal).
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Na edição de hoje de A Gazeta, li um texto que tratava de uma manifestação de estudantes de jornalismo que, naturalmente, se opunham ao fim daquela reserva de mercado. O jornalista que assinava o texto não escondia uma certa simpatia pelos “protestos pelo fim da exigência de diploma”. Isso mesmo. Protestos pelo - e não contra o fim da exigência, como ele escreveu, corretamente, algumas linhas abaixo. Uma parte cruel de meu ser sussurrou: “São necessários quatro anos de estudo para escrever de modo desatento?”
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Afastei esse pensamento antipático, mas acabei me lembrando de meus tempos de estudante e concordei com a Veja, pensando com meus botões: “Quem sabe agora os jornais não vão melhorar?”
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Lembro-me, sem saudade, de alguns professores “morcegos” e de outros, como os de Economia e de Psicologia, que nos davam aula porque eram proibidos de ensinar os alunos de seus respectivos departamentos. Também não esqueço de nosso laboratório mal-equipado e da imensa facilidade com que alguns colegas pouco aplicados tiravam 10. Em meus pesadelos, ainda me recordo de quando fazíamos uma disciplina chamada “Expressão oral e escrita em jornalismo 1”: nossa “prática”, no laboratório, consistia em adaptar notas de jornal impresso para texto de TV. Foi a mesma coisa durante todo o semestre. E a professora nunca simpatizava com o que eu escrevia. Se fosse só eu não saber escrever para TV, até que vá, eu realmente acho que não dava pra coisa, mas o problema é que ela continuava em pé do meu lado, batia palmas para chamar a atenção de toda a turma e berrava: “Olha, gente, isso aqui não pode fazer, não: o colega de vocês escreveu portanto no texto dele”. Em meus tempos de escola primária, nunca fiquei de castigo ajoelhado em cima de grãos de milho nem usei orelhas de burro, mas acho que aqueles constrangimentos semanais me deram uma ideia precisa de qual deve ser a sensação.
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Evidentemente, o curso teve muitos pontos positivos, especialmente no que se refere às disciplinas não-específicas da área de jornalismo: psicologia, filosofia, antropologia, estética da arte... Mas gostei muito de fotografia e de teoria da comunicação, também. Por outro lado, depois que saí, o currículo do curso foi reformulado e o laboratório foi reequipado.
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De qualquer forma, o que mais me interessa é como mudei de lá para cá: durante aqueles meus primeiros semestres de Ufes, estava convicto de que era marxista-comunista e, se a exigência de diploma fosse revogada naquela época, tenho certeza de que eu praguejaria contra “o governo neoliberal que está lesando os direitos da classe jornalística para beneficiar o baronato da mídia”. (Acho que, se tivesse a oportunidade, também participaria de uma passeata ostentando bótons de “Fora FHC, fora FMI”.)
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Ontem, no entanto, na fila do supermercado, folheio a Veja e olho o editorial, que se posiciona a favor da medida do STF: segundo a revista, a exigência do diploma para o exercício da profissão de jornalista era uma herança da ditadura militar (foi implementada em 1969, o que já é bastante significativo) e cerceava o direito à livre expressão. Convém lembrar que semelhante exigência não existe em países como Alemanha, Argentina, Austrália, Bélgica, Chile, Dinamarca, Espanha, Estados Unidos, Finlândia, França, Grécia, Holanda, Irlanda, Itália, Japão, Reino Unido, Suécia e Suíça. E que a não-obrigatoriedade do diploma não diminui necessariamente o valor de mercado da formação em jornalismo (mas certamente não estimula a criação de 200 faculdades de fundo de quintal).
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Na edição de hoje de A Gazeta, li um texto que tratava de uma manifestação de estudantes de jornalismo que, naturalmente, se opunham ao fim daquela reserva de mercado. O jornalista que assinava o texto não escondia uma certa simpatia pelos “protestos pelo fim da exigência de diploma”. Isso mesmo. Protestos pelo - e não contra o fim da exigência, como ele escreveu, corretamente, algumas linhas abaixo. Uma parte cruel de meu ser sussurrou: “São necessários quatro anos de estudo para escrever de modo desatento?”
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Afastei esse pensamento antipático, mas acabei me lembrando de meus tempos de estudante e concordei com a Veja, pensando com meus botões: “Quem sabe agora os jornais não vão melhorar?”
Cara, você não esquece mesmo essa história do 'portanto', né? hehehehe...
ResponderExcluirBem, brincadeiras à parte, concordo com sua opinião e sugiro que façamos já um 'protesto a favor da não obrigatoriedade do diploma!' \o/