terça-feira, 9 de agosto de 2011

Gainsbourg

Acabo de voltar do meu querido Cine Metrópolis, o cinema da UFES, onde assisti a "Gainsbourg: o homem que amava as mulheres". O título em português, que não tem nada a ver com o original (Gainsbourg : vie héroïque), só faz realmente sentido quando se conhece o personagem... ou quando se vê o filme. Diferentemente do que ocorre em "Piaf - um hino ao amor" (cujo título em original é Piaf - la môme, você descobre por que com um pouquinho de pesquisa), temos nessa produção uma narrativa que mistura o real e o fantástico. 

É nisso tudo que a citação que aparece logo no início dos créditos ganha todo o seu significado. Não vou contar qual é a citação, e aliás nem é isso o mais interessante: vá ver o filme em alguma sala de projeção, baixe na internet, dê seus pulos! Se você se interessa pela cultura francesa, se você gosta de música, se você tem tesão de cinema, você não pode perder essa viagem pela biografia de um dos maiores artistas do século XX. Confesso que o estilo de Gainsbourg já me causou certa estranheza, e por sinal eu adorava provocar minhas turmas de iniciantes com Je t'aime... moi non plus, na época em que dava aulas de francês. Aliás, é preciso alertar para o fato de que o tradutor deu uma cochilada feia ao traduzir esse verso de uma das canções mais emblemáticas do eterno Serge. As legendas apresentam um "Eu te amo... eu também te amo muito" (ou algo que o valha) sem sal e simplesmente errado. A tradução correta é "Eu te amo... eu também não". É a  aparente incoerência dessa linha que a torna tão brilhante.

Irreverente, iconoclasta, irresponsável... indecente. O protagonista, sempre acompanhado de  seu cigarro, suas orelhas de abano e seu nariz indescritível, era feio de doer e simplesmente irresistível. Teve as mulheres mais lindas a seus pés, escandalizou e seduziu a sociedade de seu tempo, e está à frente do nosso. Qualquer um que já curtiu uma fossa (ou uma décadence, fica melhor em francês) num boteco fodido, qualquer um que sabe o que é ser de carne e osso, qualquer um que sente que estamos nesse mundo para algo mais do que uma rotina em preto-e-branco já teve seu momento Serge Gainsbourg.

O filme é ousado, surpreendente, empolgante. Não pude fazer outra coisa ao deixar o cinema que não comprar uma cerveja e voltar a pé curtindo o vento e o cheiro da noite. Se tudo o que eu disse ainda não te convenceu a ver o filme, talvez você se anime ao saber que é simplesmente Laetitia Casta quem interpreta Brigitte Bardot, e que a atriz inglesa que encarna Jane Birkin também não é nada mal. 

Bom, acho que é a primeira vez que falo tanto de um filme aqui no blog. Normalmente, me contento em dar um resumo magrinho da história e colocar o trailer, mas a experiência que acabo de ter no Metrópolis me exige mais do que isso. Aliás, coloco abaixo dois trailers: o que deve ser o americano (com legendas em português) e o francês (sem legendas, désolé). Você verá como a mesma película pode ser apresentada de duas maneiras completamente distintas. Não se trata de preferir uma ou outra, mas de evidenciar a riqueza de que essa diferença é a prova.

Trailer:

Bande-annonce :

P. S.: Um de meus compositores preferidos, Georges Brassens, faz uma "pontinha", cantando em uma das cenas, um pouco como acontece em Piaf. Boris Vian, um gigante da chanson que ainda tenho que me dar ao prazer de descobrir, também dá as caras em um trecho inesquecível. Não pude me impedir de pensar nas superproduções que a Marvel vem lançando, em que o Homem de Ferro ou o martelo do Thor aparecem no filme do Hulk. Bem que podiam colocar a vida de Brassens na telona daqui a alguns anos... Ah, nunca ouviu falar de Brassens? Corra para a Wikipédia e para o YouTube, escute as músicas, busque as letras e as traduções delas, você merece o prazer dessa descoberta! Claro que o mesmo vale para Gainsbourg...

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