quarta-feira, 26 de maio de 2010

PLUTÔT

Depois de alguns anos como professor, a gente percebe que algumas palavras extremamente importantes quase nunca aparecem na fala dos alunos. Talvez a causa seja o material didático, que não aponta a importância desses vocábulos, ou a dificuldade de levar os alunos a ter um contato mais intenso com documentos autênticos na língua. Penso que a chave do aprendizado é prestar muita atenção ao que é visto em sala de aula, mas não se limitar a isso: é preciso ter espírito de pesquisador, é fundamental guardar a curiosidade e futucar textos dos mais diversos tipos, assistir vídeos na internet, buscar aprender sobre a cultura que se tenta conhecer (na própria língua, de preferência, ou em português mesmo, se for bem no comecinho do estudo).
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Mas do que eu gostaria mesmo de falar, hoje, é de uma palavra que me parece ilustrar perfeitamente o que mencionei acima: plutôt. Esse advérbio (que tem bem mais de uma tradução) é, a meu ver, bem representativo de um modo francês de pensar. Vamos a alguns exemplos que não terão a pretensão de ser exaustivos (essa palavra é um verdadeiro universo, consulte o TLF, o maior e melhor dicionário on-line que eu conheço). Termino com um rápido comentário:
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– Tu l’as trouvé comment, ce film ? (O que você achou desse filme?)
Plutôt bien. (Até que é legal.)
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C’est intéressant comme livre mais c’est plutôt bizarre.
(É um livro interessante, mas é meio esquisito.)
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Il est plutôt barbant, celui-là !
(Aquele cara é meio chato! – mesmo que você ache o sujeito um mala sem alça total. Embora você possa dizer de modos bastante expressivos (bastante mesmo, acredite em mim!) que você não aguenta o camarada, percebo que o eufemismo e certo tipo de ironia são mais frequentes na França do que no Brasil.)
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La musique de cet artiste mélange différents styles mais je crois qu’il fait plutôt du rock.
(A música desse artista mistura diferentes estilos, mas eu acho que ele está mais pro rock.)
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C’est une proposition polémique mais je suis plutôt pour.
(É uma proposta polêmica, mas eu sou mais favorável do que contrário a ela.)
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Plutôt que d'être sur FACEBOOK, je devrais être avec the FACE on the BOOK.
(Em vez de ficar no FACEBOOK, eu deveria ficar com the FACE on the BOOK.)
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– Tu viens avec nous au concert de “Parangolé” ? (Você vai com a gente no show do Parangolé?)
Plutôt mourir ! (Prefiro morrer!)
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Como você percebe, plutôt, que vem de plus tôt (“mais cedo”) pode ser comparado a um dos usos da palavra portuguesa “antes”, quando ela indica a preferência. Acontece que, em nossa língua, trata-se de um uso meio (plutôt) literário, reservado de preferência (plutôt) a provérbios ou à língua culta, enquanto que, em francês, é coloquial. Prefiro até dizer (je dirais plutôt) que creio que a frequência relativamente grande desse advérbio está ligada ao temperamento francês, que me parece preferir expressar suas opiniões mais (plutôt) com meios-tons do que com cores berrantes. (É uma impressão pessoal, posso estar enganado, mas bom...)
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Claro que há diversos sinônimos e que, se você quiser traduzir o parágrafo acima, não precisa repetir plutôt tantas vezes. Escrevi daquele jeito mais (plutôt) para brincar um pouco. “Mas quais são os sinônimos, professor”, pergunta alguém do outro lado da linha. Um sujeito meio (plutôt) escroto responde: “Bom tema para você pesquisar, né? Lembra do que eu falei lá no alto?”

sexta-feira, 14 de maio de 2010

la nouvelle lune

l’océan s’étend entre moi
et elle, dans ma pensée,
elle est la nouvelle lune,
elle est là même
si je ne la vois pas
encore
si, je la vois quand je m’envole
quand j’enlève le voile
quand je déplie mes ailes
pour aller à sa rencontre
dans mes rêves je la devine
blanche sur la nuit sombre
au-dessus de la mer
au-dessous je sombre
.
mon élan est lent
me voilà devenu une île
perdu dans cet océan
je souffre, je sens le souffre
moi, le volcan, j’attends :
le vol, quand ?
.
quoi que je fasse, où que j’aille,
jaillit la lave que ses mots éveillaient,
jusqu’à ce qu’il niais que le détail
de ces sourires imaginés
derrière le silence de la distance
.
le non-dit inonde cet océan
.
« hélas », je pense
et là, je pense : « elle
est ma nue, elle
me réchauffe
de la lueur qu’elle émane, nue
dont je ne tombe point, nue
que je ne vois
guère que je déclare
ascète mer qui nous sépare »
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il est tard et elle se couche
quelque part dans l’horizon
la voix éraillée, je crie ma joie
aux quatre vents, en voyant
la voie émaillée qui se décrit
sinueuse sur la mer : mon itinéraire
.
bien ou mâle, je la suivrai

Entre o livro e a liberdade

Depois de um longo período de hibernação, me voilà de volta ao blog. Hoje, quero compartilhar com vocês minha alegria de ver minha participação no coletivo Entre o Livro e a Liberdade, exposição de poesias ao ar livre realizada em Portugal, da qual minha amiga Anne Ventura falou duas vezes em seu blog (clique para ler o primeiro texto dela e o segundo). Enviei três poemas e a Anne topou com um deles (a exposição é enorme, então foi sotre minha ela ter encontrado o texto).
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Seguem abaixo as fotos que ela tirou, que não me deixam mentir. O texto, já publicado aqui, se chama minúsculo.