segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Nova Ioga

Olha que tchuque-tchuque:

Poemas do Wilberth

Dois poemas de um cara chamado Wilberth, que meu tio Buza conheceu na UERJ (mas acho que não é o professor da UFES):

CREPÚSCULO

Cai o sol...

Ai que tombo!


(SEM TÍTULO)
Quem tem boca vai a Roma
Quem tem boca vai a Londres
Quem tem boca vai à França

Pobre não tem boca

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Yves Jamait

Muitas pessoas acham que a música francesa se resume a Edith Piaf e a Charles Aznavour (que eu adoro, diga-se de passagem). Alguns, estranhamente, continuam com essa impressão depois de estudar francês. Vai entender... Como você pode verificar na seção Música deste blog, a França tem muito o que oferecer a seus ouvidos: muitos ritmos, muitas influências, muita gente boa. E olha que eu nem sempre me lembro de colocar canções aqui; se eu fosse postar alguma coisa sobre todos os artistas que me agradam, acho que faltaria espaço.
.
Outro comentário que às vezes escutamos é que a música francesa é "esquisita". Trata-se, frequentemente, de comentários feitos por alunos que estão muito habituados a só escutar artistas americanos. OK, gosto é gosto, tem gente que acha que isso não se discute - eu discordo, mas bom... Seja como for, o ritmo francês por excelência é a chamada chanson. É um rótulo, a meu ver, tão vago quanto MPB: um guarda-chuva que inclui artistas completamente diferentes entre si. Mas alguns traços são marcantes: um certo ritmo "bem francês" e uma grande atenção dada ao texto, muitas vezes salpicado de humor.
.
Yves Jamait, de quem eu apresento três músicas aqui, é um bom representante desse estilo. Suas letras, que vão do divertido ao sério, usam e abusam de um estilo muito próximo ao da fala coloquial, e são excelentes para aprender francês. Perceba o uso dos apóstrofos: muitos deles estão "errados", e indicam o e caduc (que não se pronuncia). É importante lembrar que, de acordo com a regra ortográfica, nunca se usa apóstrofo antes de consoante; afinal, esse sinalzinho indica que a vogal anterior caiu para não produzir hiato com a que vem depois dele. Um dia volto a falar do assunto. Outros aspectos marcantes são os "ne" da negação, que vão pras cucuias quase sempre, além de uma série de expressões correntes que você pode me perguntar caso não encontre no dicionário..
.
OK tu t'en vas quebra completamente com o clichê você-vai-me-abandonar-e-meu-mundo-vaicair. Reste é plutôt um poema de amor, mas com um balanço muito legal - e a voz inconfundível de Jamait cria todo um clima. Jean-Louis eu fui conhecer hoje e postei porque o clipe é um barato. No comentário, você encontra o texto da primeira e da terceira (em Reste, você acompanha na tela mesmo). Nos vídeos relacionados, dá pra fazer a festa!





quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Não foram poucas as vezes em que algum conhecido ou algum aluno, ao se deparar com meu ateísmo declarado, me disse algo como “não acredito na religião, mas acredito na ”. Trata-se, em geral, de pessoas que estudaram, que ouviram críticas perfeitamente razoáveis, às vezes duríssimas, à igreja católica, às diferentes denominações protestantes ou, ainda, ao judaísmo ou ao Islã. Trata-se, em geral, de pessoas que não frequentam nenhum culto, que não dão importância a rituais místicos ou a práticas transcendentais. Trata-se, em geral, de pessoas que nem acreditam no deus das religiões ou que fabricaram para si mesmas um deus tão vago, tão abstrato, tão indefinível, que acho que é só um modo de não confessar para si mesmos que são ateus.
.
O que mais me incomoda em “ateus enrustidos” é que muitas vezes eles têm um lado condescendente com a religião, um certo medo de chocar os outros ao dizer o que eles realmente pensam, uma estranha vergonha de seu ceticismo. No caso particular desses que dizem “eu acredito na ”, parece-me que o problema é uma compreensão meio vaga do sentido desse termo.
.
Fé é uma palavra empregada em diversas expressões, como “tenho fé que vai fazer sol”, “vai com fé que dá certo” ou “Fulano não tem fé na vida”. Acredito que estamos, aqui, diante de expressões idiomáticas nas quais “fé” significa “confiança”, “boa-vontade” ou “otimismo”. Vou, então, tentar pôr os pingos no is e definir do que estou falando quando escrevo “fé” no meu texto. O sentido central desse termo, que está subjacente às expressões citadas acima, é o de convicção. Mas, se você olhar direito, vai perceber que essa convicção tem um componente importante: ela não é baseada em dados materiais objetivos, precisos. Imagine se um meteorologista afirmasse “tenho fé que o domingo vai ser ensolarado”! Ele não gozaria de muito crédito. Ou estaria gozando da nossa cara.
.
Essa compreensão de fé como “convicção sem base material” é especialmente válida para aqueles que, em sua vida, costumam validar suas ideias e ações por argumentos sólidos mas que, confrontadas com o questionamento da religião, ao não encontrar u m modo de fundamentar sua crença, apelam para a chamada “fé”. Há também, como eu mencionei acima, aqueles que não creem, mas que dizem “crer na crença”, ou seja, têm “fé (confiança) na fé (crendice – dos outros)”.
.
Para esses últimos, gostaria de explicar por que Richard Dawkins diz que a fé é a “mãe de todas as burcas”: somos ensinados a pensar que ter fé é algo positivo, mas ter fé signifgica simplesmente estar imbuído de uma crença que não se baseia em argumentos – estamos, na verdade, falando de um sentimento que pode impelir a fazer o bem, a ser gentil, a realizar grandes gestos de generosidade, mas também a condenar, oprimir e até matar, tendo como único respaldo uma ideia que vem do além e se transforma numa certeza individual que não admite negociação. Qualquer pessoa familiarizada com a história da humanidade vai perceber que as crenças fortes, o mais das vezes, serviram muito mais para atiçar do que para refrear nossos impulsos malignos. Como alguém já disse: “Sem a religião, pessoas boas fariam o bem e pessoas más fariam o mal. Somente a religião pode fazer uma pessoa boa praticar o mal.” Basta pensar nas Cruzadas, na Inquisição, nas burcas islâmicas, na excisão de clitóris de meninas de dois anos (prática corrente em muitas tribos africanas) e nos muitos atos de violência perpetrados contra mulheres, homossexuais, negros, crianças, “infiéis” diversos...
.
Você pode também pegar esse exemplo de um homem que agiu inspirado por sua fé:

Convém lembrar que esse conceito de fé se aplica igualmente ao soldado nazista convencido da superioridade da raça ariana, ao oficial da KGB preocupado em defender o governo do proletariado ou ao general brasileiro dos anos 60-70 que trabalhava para garantir que nosso Brasil Varonil estivesse “em ordem”. É aquela história: fé cega... e faca amolada!